História de Arapiraca
*O texto abaixo foi escrito pelo historiador Zezito Guedes e revisado, para o nosso site, pela professora Maria Zilma Barbosa da Silva Oliveira (Professora Zilma)
ORIGENS
Segundo conta uma tradição do povo, remanescente do próprio fundador, a palavra Arapiraca tem origens indígenas e, por analogia, significa: “ramo que arara visita”. Entretanto, à luz da ciência, trata-se de uma árvore da família das Leguminosas Mimosáceas – Piptadênia (Piteodolobim), uma espécie de angico branco muito comum no Agreste e no Sertão e que o povo, a sua maneira, denomina de Arapiraca.
Então, foi nessa Arapiraca, a árvore frondosa e acolhedora, situada à margem direita do Riacho Seco, onde o fundador Manoel André Correia dos Santos acampou no primeiro dia, quando procurava uma fonte de água doce onde pudesse se instalar para tomar posse da propriedade Alto do Espigão do Simão de Cangandu adquirida em 1848, por seu sogro Capitão Amaro da Silva Valente Macedo, que residia no então Povoado Cacimbinhas, município de Palmeira dos Índios.
Quando realizava o primeiro desmatamento na área, auxiliado por trabalhadores, num dia de muito sol, Manoel André escolheu a árvore sombria, onde pudesse descansar ao meio-dia.
Encostou aí os instrumentos de trabalho e cuidou de preparar a “bóia”, quando então usou estas palavras: ” Esta Arapiraca, por enquanto, é a minha casa”.
Este seria o primeiro ponto de referência, o marco que, através do tempo, passaria à história.
Contam ainda os ramos ascendentes que, em seguida, Manoel André construiu, à sombra da árvore, uma cabana de madeira coberta com cascas de angico, onde passou os primeiros dias, enquanto fazia surgir a primeira casa, numa distância de cerca de cem metros, quando se instalaria com a família que viera de Cacimbinhas, no mesmo ano de 1848.
Em pouco tempo, formou-se um próspero sítio e, em 1865, quando Manoel André construiu uma capela, já havia um arruado de casas de taipa de duas águas, formando um quadro.
O povoamento de Arapiraca foi ocorrendo de forma sistemática, ou seja, tal qual as colonizações portuguesas tradicionais, o que resultou numa imensa árvore genealógica.
Assim, em 1848, o Capitão Amaro da Silva Valente de Macedo mandou o genro, Manoel André Correia dos Santos, comprar e ocupar a terra Alto do Espigão do Simão do Cangandu para localizar com a família, tendo em vista um sério incidente ocorrido entre Manoel André e o cunhado José Ferreira de Macedo.
Dez anos depois, (1858), o Capitão Amaro envia outro genro de nome José Veríssimo dos Santos, que ocupou a parte Sul da propriedade denominada Cacimbas. Em 1859, também seu cunhado Manoel Cupertino de Albuquerque (casado com sua irmã), que se instalou ao lado, no local denominado Baixão.
No final de 1860, Terezinha Nunes Magalhães (mãe de José Veríssimo), fica viúva de José Nunes Pereira de Magalhães, em Campos de Anadia e chega em Arapiraca em companhia dos filhos Domingos Nunes Barbosa, que fundou Canafístula, Estevão Nunes Barbosa, Manoel Nunes Barbosa (que fugiram da convocação da Guerra do Paraguai em Campos de Anadia e se refugiaram à margem de uma lagoa cercada de craíbas, na herança de José Pereira, seu irmão ,e de Manoel Ferreira de Macedo, genro e filho do Cel. Amaro da Silva Valente, onde surgiu a povoação Craíbas dos Nunes.
A partir de 1861, chegaram José Ferreira de Macedo, Manoel Ferreira de Macedo (cunhados de Manoel André), e o sobrinho Pedro Cavalcante de Albuquerque, filho de Joana da Silva Valente e Manoel Cavalcante de Albuquerque; os primeiros se instalaram na Serra dos Ferreira e Pedro Cavalcante nos Caititus. Em seguida, chegaram os irmãos de Manoel André: Manoel Eugênio, André Correia e José Sotero, que se estabeleceram no Sítio Mangabeira.
Estes foram os primeiros povoadores, cujas famílias cresceram e multiplicaram-se, entrelaçando-se (não havia gente de fora), e formando esta imensa árvore genealógica através do tempo. Todavia, o que dificulta atualmente a identificação das famílias é a não conservação do sobrenome dos ramos ascendentes.
Assim, alguns remanescentes de Manoel André como os filhos de Maria Rosa Correia dos Santos e Lúcio Roberto da Silva passaram a usar o sobrenome Lúcio; os filhos de José Veríssimo dos Santos foram assim registrados: Manoel Antônio Pereira de Magalhães, Antônio Leite da Silva, Esperidião Rodrigues da Silva, José Nunes de Magalhães, Joana Umbelina de Magalhães, entre outros.
Do tronco de Manoel Cupertino de Albuquerque, foram registrados os filhos com estes sobrenomes: Manoel Nunes de Albuquerque, Inocêncio Nunes de Albuquerque, Antônia Maria de Jesus e outros. Os filhos de Bernardino José dos Santos foram assim registrados: Pedro Leão da Silva, Antônio Raimundo dos Santos, João Francisco Aureliano, Maria Antônia dos Santos, Josefa Maria da Conceição, Euzébio José dos Santos e outros. O tronco de Manoel André tem, pois, os seguintes ramos: Correia, Lúcio, Inácio, Vicente, Fausto, Umbelina, Belarmino, Amorim, Oliveira e outros. Segundo conta a tradição, o sobrenome Lima surgiu com a presença de Felipe José Santiago, que teria vindo de Água de Menino, Junqueiro-AL.
Já o tronco de José Veríssimo dos Santos possui os ramos: Magalhães, Rodrigues, Leite, Barbosa, Nunes, Pereira, Ventura, Honório, Oliveira e outros. Os descendentes de João de Deus (casado com uma tia de Manoel André), mesclaram-se com as famílias já referidas e tomaram os mais variados sobrenomes. Quanto aos irmãos José Ferreira de Macedo, Manoel Ferreira de Macedo, Maurício Pereira de Albuquerque e Joana Leopoldina da Silva Valente (casada com Manoel Cavalcante de Albuquerque), seus descendentes têm os sobrenomes: Macedo, Albuquerque, Nunes, Ferreira, Alexandre, Cavalcante, Oliveira, Gama, Pereira e outros.
Conclusão, eram irmãos: José Ferreira de Macedo, Maurício Pereira de Albuquerque, Manoel Ferreira de Albuquerque e as esposas de Manoel André, José Veríssimo Pereira, Joaquim Pereira e Manoel Cavalcante de Albuquerque que eram filhas do Capitão Amaro da Silva Valente.
O POVOADO
Edificado à margem direita do Riacho Seco, a princípio Arapiraca se estendeu por uma faixa de planalto coberta por densa vegetação típica do agreste, onde se destacavam: Pau d’Arco, Cedro, Angico, Massaranduba, Aroeira, Pau Viola, Quixabeira, Umburana, Jurema, Braúna, Pau Ferro, Canafístula, Cajarana e, principalmente, a árvore símbolo – Arapiraca.
Contando com uma privilegiada localização e impulsionada pela extraordinária capacidade de trabalho de seu povo, Arapiraca estaria fadada a cumprir uma florescente trajetória através dos anos.
No início deste século, Arapiraca ainda era edificada com casas de taipa, modelo duas águas com biqueira, existindo duas construções em alvenaria: uma, no Quadro – atual comércio, construída pelo Capitão Chico Pedro e, outra, na Rua Nova – atual Praça Deputado Marques da Silva, um sobrado construído por Antônio Apolinário e que depois serviu de Paço Municipal.
Até então, havia ainda em Arapiraca vestígios dos primeiros tempos da fundação. Existiam, em pleno centro urbano, muitas árvores nativas em cujas sombras os feirantes colocavam carros de boi, amarravam animais e a meninada da época brincava diariamente. Na rua Nova, existia um viçoso Pau d’Arco, próximo à Igreja de São Sebastião e um frutífero Jenipapeiro em frente à casa de Tibúrcio Valeriano. Conta-se que, certa vez, o pe. João Maria, de passagem por Arapiraca, observando o verde destas árvores, afirmara que em seu subsolo, não muito distante, com certeza passaria algum lençol d’água, daí o vigor daquelas plantas tão verdes. E sugeriu, na ocasião, que se alguém cavasse um poço, a poucos metros de profundidade, encontraria água abundante. Aproveitando a sugestão, José Magalhães cavou uma cacimba que, durante décadas, forneceu água gratuita à população daquela época.
No comércio, existiam diversos umbuzeiros ao longo do quadro e uma velha tamarineira, em frente à loja de José Lúcio da Silva, em cuja sombra nasceu a feira e onde os trabalhadores Vicente Flor, João Higino, Belo, Joca da Serra, Pedro Alexandre, André Marchante e outros penduravam a carne para vender.
Havia ainda um lendário coqueiro, situado em frente à igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho que, segundo informações do Sr. Toinho Cavalcante, vinha dos tempos da fundação de Arapiraca e era considerado como uma relíquia pelos descendentes de Manoel André.
Onde foi aberta a Rua do Cedro – atual Av. Rio Branco, havia uma série dessas árvores, as quais, tempos depois, foram destruídas. Finalmente, abaixo do comércio, antes da atual ponte sobre o riacho, estava situada a frondosa e verdejante Arapiraca, que serviu de sombra acolhedora ao primeiro habitante e assistiu, como testemunha muda, ao nascimento de uma cidade com o seu próprio nome. Infelizmente, o marco foi destruído para dar passagem ao progresso, talvez…
A CIDADE
Quando Arapiraca foi elevada à condição de cidade, em 1924, contava, apenas, com cinco logradouros públicos incompletos e alguns acessos. assim, existia o Quadro – atual praça Manoel André, a rua Nova – hoje Pça. dep. Marques da Silva, a rua Pinga Fogo – atual rua Aníbal Lima, início da rua Boca da Caixa e que, depois, passou a ser denominada de rua 15 de Novembro e início da rua do Cedro – atual Av. Rio Branco.
Após a emancipação, aproveitando um largo que saía da extremidade da rua Nova em direção à localidade de Cacimbas, o prefeito eleito, Major Esperidião Rodrigues da Silva, construiu a rua do Cedro (cedendo uma faixa de terra de sua propriedade), que depois passou a ser chamada Av. Rio Branco. Além desses logradouros, existia ainda o Beco dos Urubus, que saía do centro do Quadro em direção à lagoa, onde o comerciante Firmino Leite estendia couros para secar ao sol, atual saída para a ponte do Alto do Cruzeiro. Afora isso, existia um largo que partia da rua Nova em direção ao cemitério (onde está situada a Concatedral de Nossa Senhora do Bom Conselho), onde por muito tempo, existiu um matadouro – atual Largo D. Fernando Gomes.
Um panorama bucólico dominava a cidade naqueles tempos idos. A presença de animais pastando em plena rua era uma constante e dezenas de carros de boi trafegavam diariamente, escutando-se o contínuo ranger das rodas nas tardes ociosas do verão. À noite, os jovens contavam estórias sentados nas calçadas e os mais conservadores rezavam ofícios e novenas na igreja. A vida era aquela rotina e até o tempo demorava a passar, pois o movimento era pequeno e as horas eram ociosas. Enfim, a cidade parece até que vivia parada no tempo. O progresso ainda estava longe e o casario de formas singelas dava ainda a impressão de um povoado.
A EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
Um dos capítulos mais importantes da história de Arapiraca e que merece registro é a luta empreendida pelo líder da emancipação Major Esperidião Rodrigues da Silva, a partir de 1918, quando assumiu o comando da campanha em prol da emancipação política do distrito de Arapiraca.
Foram anos de preocupações e sacrifícios, enfrentados pacientemente pelo líder da campanha, realizando reuniões e preparando relatórios sobre a área do povoado, número de imóveis, de habitantes, de propriedades rurais, atividades comerciais, produção agrícola, enfim, toda economia local, para, de posse desses subsídios, provar que o distrito de Arapiraca poderia sobreviver emancipado de Limoeiro de Anadia.
Convém frisar que naquela época ainda não existia automóvel no interior e as exaustivas viagens à capital do estado eram realizadas a cavalo e o Major Esperidião Rodrigues tinha que inevitavelmente passar por Limoeiro de Anadia, cujas lideranças políticas envidavam esforços, tentando a todo custo obstruir o trabalho e a tramitação do processo de emancipação do distrito de Arapiraca.
Então, as hostilidades eram constantes e quando o nosso libertador passava humildemente por Limoeiro de Anadia, em demanda da capital Maceió, ouvia impropérios e achincalhes dirigidos à sua pessoa, por causa de sua luta em prol da emancipação de Arapiraca, numa fase em que imperava a oligarquia da família Barbosa, que tinha livre acesso aos bastidores do Palácio dos Martírios, como políticos de situação e bem prestigiados.
Homem abnegado, era uma verdadeira peregrinação que o Major Esperidião Rodrigues fazia há anos, frequentando secretarias, Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, Palácio do Governo e outros órgãos, onde o líder da campanha ficou muito conhecido e os funcionários e assessores, quando o avistavam ao longe comentavam entre si: “Lá vem o homem dos olhos azuis outra vez..”
O tempo foi passando até que, enfim, apareceu uma luz no fim do túnel e o panorama começa a clarear com a presença oportuna do Deputado Odilon Auto (natural de Pilar), que, acompanhando o sacrifício do Major Esperidião Rodrigues, resolveu apoiar e defender a causa da Emancipação Política do então distrito, reivindicada pelo laborioso povo de Arapiraca.
Agora, de posse da documentação necessária, o Deputado Odilon Auto se engaja na luta e passa a preparar o projeto para enfrentar a fase mais difícil: convencer a maioria dos deputados e votar pela aprovação do Projeto de Lei para posterior sanção pelo Governador dr. José Fernandes Lima.
Foi uma tarefa árdua enfrentada pelo Deputado Odilon Auto que, durante meses, se empenhou com toda capacidade de trabalho pela justa causa da emancipação do Distrito de Arapiraca, contrariando os interesses dos políticos de Limoeiro de Anadia, que não desejavam perder a renda mensal do seu mais importante distrito que era Arapiraca.
O líder Esperidião Rodrigues, impaciente com a burocracia da tramitação do processo, tomou uma atitude: viajaria a Maceió e só voltaria para Arapiraca após o resultado final – ou tudo ou nada. Foi com essa decisão que chegou à capital na primeira quinzena de abril e durante 40 dias permaneceu ao lado do Deputado Odilon Auto, acompanhando a tramitação do Projeto de Lei nº 1009, que, após vários debates e discussões acaloradas, foi finalmente aprovado pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo Governador dr. José Fernandes Lima, no dia 30 de maio de 1924. Foi um relevante serviço prestado pelo Deputado Odilon Auto à causa da emancipação e uma grande vitória para o líder da campanha Major Esperidião Rodrigues da Silva, o grande idealista.
ESPERIDIÃO RODRIGUES
Nasce na Vila de Cacimbinhas em 16 de junho de 1858,Esperidião Rodrigues da Silva, filho de José Veríssimo Nunes dos Santos e Ana Maria da Silva Valente.
Neto materno do português Amaro da Silva Valente de Macedo e de Izabel Pereira da Rocha Pires. Em janeiro de 1859, seu pai resolve transferir-se para o povoado de Arapiraca, onde lá já residia seu cunhado Manoel André Correia dos Santos; chegando em Arapiraca, fixa residência na parte denominada de “Cacimbas”; nesta época, Esperidião tinha seis meses de vida. Sua infância foi muita boa, brincava entre as árvores e pássaros e sonhava com uma cidade tranqüila e bem povoada. Seu pai, católico fervoroso, criou a família dentro dos padrões de honestidade, respeito e amor ao trabalho.
Casa-se Esperidião com 17 anos de idade, (1875),com sua prima Joana Belarmina de Macedo, casamento acertado por seus pais, como era de costume da época e ele não ia fugir à regra. Desta União, nasceram os filhos: André Rodrigues de Macedo, Serapião Rodrigues de Macedo, Domingos Rodrigues de Macedo, Lino Rodrigues de Macedo, Antônio Rodrigues de Macedo, Jonas Rodrigues de Macedo e Cecília Rodrigues de Macedo.
Esperidião tinha em seus planos montar uma casa de Comércio. Sempre que levava cargas de algodão para vender em Penedo, voltava com tecidos e outras mercadorias para montar sua loja. Estas idas e vindas de pessoas, a fim de comerciar ficou conhecida como “A rota do São Francisco”.
Esperidião, como homem de visão, viu a necessidade da proteção aos viajantes pelas estradas desertas, então sugeriu a criação de uma guarda policial. Sua ideia foi aceita. E esta guarda ficou sob o comando de João Magalhães, que impôs respeito e ordem. Esperidião torna-se o 1º comerciante em 1880, e do Povoado de Arapiraca, em 1848, Esperidião criou a feira de Arapiraca, a fim de facilitar a vida dos moradores do povoado.
Esperidião foi eleito, Presidente do Conselho da Vila de Limoeiro em 1892. Neste mesmo ano, conseguiu do Governo a criação de uma escola para o povoado; como também a criação do Cartório do Registro Civil para casamento, nascimento, óbitos e uma agência dos correios.
Casa-se pela segunda vez com Balbina Farias de Melo, em 1897, desta união nasceram Amália Rodrigues da Silva, José Rodrigues da Silva, Genésio Rodrigues da Silva, Virgílio Rodrigues da Silva, Laura Rodrigues de Melo, Juvênio Rodrigues de Melo, Rosa Rodrigues de Melo, Gondiz Alves Rodrigues de Melo e Marieta Rodrigues de Melo. Esperidião funda no Povoado de Arapiraca, (1908), uma Sociedade Musical denominada: “União Arapiraquense” cujos instrumentos musicais foram adquiridos em Paris (França).
O Governador Cel. Clodoaldo da Fonseca nomeia, em 1915, Esperidião à Intendente da Vila de Limoeiro de Anadia até 1918. Destacando-se como líder político da atualidade.
No fim de 1918, Esperidião, desgostoso com a política, vende suas propriedades, reúne os filhos e vai fixar residência no povoado da Igreja Nova, mas, depois de estabelecido no comércio, a sua saúde começa a preocupar, então ele resolve mudar-se para Lagoa Comprida, Povoado que fica às margens do Rio São Francisco.
Chega à Lagoa Comprida, em abril de 1924, seu sobrinho Domingos Lúcio da Silva, com uma missiva a qual pedia a presença de Esperidião para liderar os rumos da Emancipação do Povoado de Arapiraca da Vila de Limoeiro de Anadia.
Daí, Esperidião reuniu a família, participa a todos que Arapiraca precisa de seu empenho e que tudo fará para ver concretizado o sonho de todos arapiraquenses.
Neste mesmo mês, Esperidião volta a Arapiraca e segue para Maceió, a fim de manter contato com as autoridades do estado, para que o processo de emancipação tenha trâmite legal e possa ser votado pelos deputados. Foi muito longo o tempo de espera, mas Esperidião não desiste. Todos os dias estava no palácio falando com um e com outro, até que se encontra com o deputado Odilon Auto, que mantém uma conversa bem reservada e obtém do mesmo a aprovação de assinar a proposta apresentada. Mas não dependia só dos deputados, tinha que ter a autorização do Secretário da Fazenda, na pessoa do dr. Castro de Azevedo que se mantinha intransigente, achando o mesmo que havendo a separação de Arapiraca com Limoeiro esta seria prejudicada. Então Esperidião prometeu que com a emancipação de Arapiraca , Limoeiro continuaria economicamente forte. Depois de falar novamente com o Governador, este por sua vez manda que ele entre em contato com o Secretário da Fazenda e ouve dele esta frase: “ Não prometo trabalhar pela emancipação de sua terra, mas prometo não criar dificuldades às suas pretensões”. Neste mesmo dia, subiu a plenário o processo e foi votado favorável. Recebe Esperidião um telegrama oficial no dia 31 de maio de 1924, no qual relatava:
Cel. Esperidião Rodrigues da Silva Arapiraca Limoeiro Acabo sancionar Projeto Lei criando município de Arapiraca, com cuja população laboriosa, adiantada e progressista me congratulo por intermédio amigo, grande incansável paladino dessa conquista que representa ato de justiça aos poderes públicos e a um povo que se levanta por si próprio, que tem iniciativa e que progride. Cordiais Saudações Ass. Fernandes Lima- Governador do Estado
O jornalista Pedro da Costa Rego empossa a junta governativa de Arapiraca em, 30 de outubro de 1924.
Leitura do termo de posse pelo juiz dr. Medeiros da cidade de Palmeira dos Índios em, 07 de janeiro de 1925.
Esperidião é eleito prefeito da Vila Arapiraca,07 de janeiro de 1925, tendo como vice José Zeferino de Magalhães e governaram até oito de janeiro de 1928.
Esperidião é eleito pela 2ª vez prefeito de Arapiraca,(1930), tendo como vice Antônio Romualdo e governaram até 1932, quando rebentou a revolução. Daí por diante, os prefeitos eram nomeados pelos Interventores que recebiam uma lista contendo cinco nomes, era escolhidos o prefeito com seu respectivo vice.
Casa-se Esperidião, pela 3ª vez, com Maria Rodrigues no ano de 1936.
Falece na cidade de Arapiraca, aos 85 anos de idade, no dia três de julho de 1943, Esperidião Rodrigues da Silva, e é sepultado no cemitério local, após terminar a sua caminhada cívica, como cidadão brasileiro e arapiraquense, com a consciência tranqüila do dever cumprido.
A PRIMEIRA ADMINISTRAÇÃO
Com Arapiraca cidade, ocorreu a primeira eleição em janeiro de 1925, com um candidato único, cuja posse ocorreu no dia sete de janeiro do corrente, o prefeito eleito Major (guarda nacional), Esperidião Rodrigues da Silva, um homem íntegro, abnegado e consciente de suas responsabilidades, entregou-se de corpo e alma ao cargo eletivo outorgado pelo povo e como primeiro mandatário passou a nortear os destinos de sua terra natal e, apesar de não contar com uma Câmara de Vereadores para legislar, foi resolvendo tudo individualmente sem contar com nenhuma subvenção estadual e nem federal para a Administração. Nos primeiros meses, foi realizado com os parcos recursos da arrecadação dos impostos do centro urbano: atividades comerciais, feira livre, imposto predial, matadouro. Tomando também a decisão de arrecadar impostos na zona rural, inclusive, das propriedades e dos animais bovinos e caprinos existentes. Só isentou de taxas os carros de boi porque transitavam carregando farinha, cereais, lenha e tijolos para as construções. E para aumentar a coleta nos dias de feira, conseguiu uma área por traz do comércio, para recolher os animais e também fazer a cobrança pelas corridas – era a “Intendência”.
No primeiro ano (1925), o prefeito Esperidião Rodrigues da Silva conseguiu planejar a primeira obra, considerada uma prioridade para a nova cidade – uma área para construção de um cemitério para o município,que seria no final da antiga rua da matança, atual Largo D. Fernando Gomes, onde cinqüenta anos depois foi edificada a Concatedral de Nossa Senhora do Bom Conselho e também o calçadão onde acontece a “Missa do galo” e outros eventos religiosos, durante o ano.
No ano seguinte, em 1926, a iniciativa privada dava os primeiros passos com o Sr. João Magalhães instalando uma “bolandeira” – um vapor para descaroçar algodão, um grande empreendimento para a época. E nesse mesmo ano, para realizar o seu grande sonho, o prefeito Esperidião Rodrigues da Silva tomou a decisão de projetar uma rua para marcar a sua passagem pelo poder público – seria a Av. Rio Branco, aproveitando para isso um longo corredor que saía da rua Nova ( atual praça Dep. Marques da Silva ) ,em direção à Cacimbas, cedendo uma faixa de terra de duas tarefas de sua propriedade. Aberto o logradouro, o prefeito escolheu um local privilegiado e também cedeu gratuitamente o imóvel para a construção da primeira Prefeitura de Arapiraca, que a partir de 1950 foi instalada a Câmara de Vereadores.
O PAÇO MUNICIPAL
O primeiro sobrado edificado em Arapiraca foi construído pelo comerciante Antônio Apolinário, na rua Nova (atual Praça Dep. Marques da Silva), e este prédio colonial foi escolhido para servir de sede para a festa de posse da Emancipação Política de Arapiraca, na data de 30 de outubro de 1924, que contou com a presença do então Governador Pedro da Costa Rego que participou também do baile comemorativo.
No sobrado antigo, chamado na época de Paço Municipal, passou a funcionar a junta Governativa, formada por líderes da comunidade, presidida por Francisco de Paula Magalhães, cuja gestão provisória foi de 31 de outubro de 1924 a 1º de janeiro de 1925, quando foi eleito (candidato único), O primeiro prefeito, o Major Esperidião Rodrigues da Silva.
No Paço Municipal, continuou também a Administração Municipal que passou a ser a primeira prefeitura de Arapiraca na Av. Rio Branco. Após a saída da Administração Municipal, no Paço Municipal, passou a funcionar a primeira Delegacia de Polícia, e mais adiante o imóvel serviu para a instalação do primeiro hotel da cidade, o Hotel Estrela,que passou por sucessivos proprietários. Até que, em 1952, o Paço Municipal passou para a iniciativa e, em 1970, foi demolido o prédio já descaracterizado, onde foi construído o edifício atual com uma grande loja no térreo e salas para escritórios nos andares superiores. Infelizmente, a exploração imobiliária eliminou os prédios históricos, testemunhas do passado, prejudicando a memória da cidade.
AS COISAS DO POVO SIMPLES
Antes que a fase de desenvolvimento atingisse Arapiraca, muitas águas rolaram por baixo da ponte e uma infinidade de fatos e coisas interessantes ocorreram na pequena urbe.
Longe estava a cidade da chamada civilização do consumo até 1950, Arapiraca era mais povo e produzia aquilo que consumia.
Assim, em vez de “iogurte”, tínhamos a coalhada escorrida que a velha Cipriana fazia com capricho numa panela de barro, no sítio Lagoa da Pedra e vendia pelas ruas de Arapiraca.]
As margaridas, umas pretas lavadeiras, vinham duas vezes por semana buscar roupas para lavar e trazer ervas, cascas e raízes para vender nas portas das casas. Era raspa de juá, mijo de ovelha, jericó, erva de passarinho, etc.
As mulheres do sítio Mata Limpa faziam macasada, beiju, pé-de-moleque e traziam, também, bredo majongomes para vender na semana santa ao povo de Arapiraca.
O velho Camilo do Sítio Fernandes fazia cachimbos de barro em quantidade, para abastecer os vendedores na feira de Arapiraca, onde era muito conhecido pela qualidade do produto.
Dona Maria Nobre ganhava seu dinheiro tinturando roupa do povo que botava luto e usava uma lama preta que existia no Poço Frio à margem do Rio Perucaba.
O prefeito de Arapiraca Manoel Lúcio percorria as ruas em sua charrete, inspecionando as obras (e as bodegas) do município. Quando voltava era “naquela base”; sua sorte era o fato de o cavalo conhecer o caminho da volta.
O velho Caio percorria a cidade vendendo seu produto aos usuários – o melado de Sergipe: “olhe o melado de Sergipe…”. Mas ficava irritado com a meninada que lhe importunava diariamente, com esta indagação – “ fumo velho o que é? “ E o velho respondia: ” – Pacaio é a sua mãe”.
Dona Otília, a criatura que fazia o melhor suspiro da paróquia, era a figura indispensável quando se tratava de festinhas e aniversários.
Atualmente, até as figuras populares estão desaparecendo, pois Arapiraca passa por uma transformação muito rápida e até o “cantar do galo”, coisa tão comum nas cidades interioranas, já é muito raro. Enfim, as coisas do povo simples já não ocorrem como no passado.
Extraído do livro “Arapiraca através do tempo” do historiador Zezito Guedes.
OS SÍTIOS
Mesmo com a presença dos grandes latifúndios na década de 40, Arapiraca possuía um verdadeiro cinturão verde circundando a cidade; sentia-se o cheiro da vegetação logo na saída das ruas, pois, ainda existia uma infinidade de ervas e frutas silvestres muito próximas do centro.
Contudo, quando Arapiraca conheceu a fase de desenvolvimento, a partir de 1950, o aspecto geral mudou muito, tendo em vista a mutilação desencadeada, tanto na área urbana, como na zona rural do município, quando foi destruída muita vegetação nativa para dar lugar à cultura de fumo.
Assim, havia o sítio de Caititús, um recanto aprazível repleto de fruteiras: cajueiros, mangueiras, laranjeiras, goiabeiras, mamoeiros, cujos frutos eram consumidos pela família, vizinhos e amigos, pois naquela época não havia mercado. Hoje a cidade cresceu e absorveu os Caititús que, de sítio, passou a bairro. A Serra dos Ferreira, um dos sítios mais antigos, foi onde se instalaram os Ferreiras de Cacimbinhas. Era um lugar agradável, com muitas árvores frutíferas, onde o capitão João Ferreira criava pavões em quantidade. Hoje está muito diferente, com a devastação que lhe foi imposta.
O Sítio Mocó, o reduto do velho Lúcio Gomes, foi o mais castigado pela evolução. Era no sítio Mocó que se realizavam animadas festas de fim de ano, freqüentadas pelos jovens da sociedade arapiraquense. Quando asfaltaram o trecho da AL – 102, ligando Arapiraca à Taquarana, o asfalto destruiu totalmente o sítio Mocó com a igreja, riscando-o do mapa do município.
A Lagoa de Dentro foi outro sítio que foi vítima da transformação ocorrida na zona rural, e praticamente foi eliminado, dando lugar a vastas plantações de capim para criação de gado. Era no passado o mais animado dos sítios e dava-se ao luxo de promover bailes carnavalescos, fazendo concorrência com o carnaval de Arapiraca. Naquele tempo,dizia-se que o povo de Lagoa de Dentro vivia de festa o ano inteiro.
A Baixa Grande era um sítio onde estavam radicadas as tradicionais famílias – raízes de Arapiraca: José Emídio, Alexandre, Honório, Estevão, Messias, Bernardino e outras, que realizavam o chamado “derradeiro dia do fumo” e também animados pagodes do Gervásio. Existiam muitas fruteiras, onde o povo de Arapiraca costumava fazer passeios e piqueniques aos domingos e feriados. Suas festas de santos eram muito animadas.
O Sítio Fernandes era, talvez, o mais antigo e foi onde Manoel André foi buscar telhas para cobrir a primeira casa que construiu em Arapiraca. Era um celeiro de almocreves e de bons tocadores de pé de bonde, onde havia muitas festas. Coberto de frutas nativas e densa vegetação, do sítio, hoje, resta apenas um próspero distrito de Arapiraca.
O Sítio Guaribas era outro recanto muito animado e também um celeiro de frutas tropicais que a juventude da época costumava freqüentar. Era lá que morava o velho Simão Lopes, figura boêmia e folclórica muito conhecida nas ruas de Arapiraca. Era um local onde o povo gostava de dança do coco e cantar na colheita do fumo.
Entretanto, o sítio mais festejado e procurado pela meninada de então era o saudoso Poço frio, onde morava Né Magalhães, o velho Pedro Cavalcante e outros. Além das frutas comuns, existia uma infinidade de frutas silvestres como: umbu, jabuticaba quixaba,maçaranduba, pinha brava, azeitona, gogoia, juá e principalmente araçá. Segundo informa Edson Raimundo, os sabias eram tão gordos de tanto comer araçás, que quase não podiam voar. Foi outra vítima do progresso que devia ter sido poupada, pois foi a inútil barragem riacho Perucaba que eliminou o Poço Frio.
O Sítio Capiatã era um dos recantos bucólicos cheio de fruteiras: foi onde o fogueteiro Pedro Nunes edificou toda família e terminou seus dias. Atualmente, com a corrida imobiliária, o sítio ficou ligado ao centro urbano através da rua Pedro Nunes de Albuquerque.
Mais adiante, vinha o sítio Macacos, com a Igrejinha da Menina, um local romântico onde o velho Beijo realizava a festa de São Pedro, com uma animado pagode até o amanhecer do dia.
Logo após, está o sítio Massaranduba, outrora coberto de fruteiras, muita vegetação nativa e frutas silvestres. As festas na casa de Zé Vermelho, Luís Vicente, Tertuliano e as destalagens de folhas de fumo na casa do velho Euzébio, quando as moças cantavam o dia todo.
No Sítio Cavaco, residiam Antônio Ventura, João Ventura, Luiz Alexandre, José Macário, João Lúcio da Silva, e mais adiante Né Ângelo, Pero Alexandre, José Rufino, João Rufino, João Alexandre dos Santos e outros.
Extraído do livro “Arapiraca através do tempo” do historiador Zezito Guedes.