Artefato confeccionado em madeira foi utilizado para produzir farinha, no início do povoamento da cidade

 

Por Davi Salsa – Tribuna Hoje – Sucursal Arapiraca 15/10/2022 

 

Após 100 anos de uso, prensa feita de massaranduba mantém viva a tradição da agricultura familiar – Foto: Laelson Almeida / Cortesia 
A produção da farinha de mandioca foi, por muitos anos, ao lado da cultura fumageira, uma das principais atividades econômicas de Arapiraca, que neste mês de outubro comemora os seus 98 anos de emancipação política.No Sítio Alazão, na propriedade rural pertencente à família Saturnino Almeida, uma antiga prensa de mandioca, feita de massaranduba, uma das árvores mais resistentes da região, e com cerca de 100 anos de uso, ainda mantém viva a tradição da agricultura familiar e a história de Arapiraca.O empresário Laelson Almeida, sobrinho do ex-vereador Adalberto Saturnino, hoje com 80 anos de idade, e tio do vereador Léo Saturnino, relata que a antiga prensa de madeira pertenceu a seu avô Manoel Antônio de Almeida.“Lembro que éramos crianças e a prensa já era bem antiga naquela época. Algumas pessoas da localidade pensaram em comprar a máquina para fazer fogueira nas festas juninas, mas não deixei porque gosto de preservar essa ferramenta, que é parte da história da nossa família e da nossa Arapiraca”, conta Laelson Almeida.

De acordo com o historiador José Sandro da Silva, que faz parte da produção do projeto Raízes de Arapiraca, idealizado há mais de quatro anos pelo deputado estadual Ricardo Nezinho, a produção de mandioca foi a primeira mola propulsora do desenvolvimento econômico da antiga Vila de Arapiraca.

O projeto e documentário audiovisual Raízes de Arapiraca conta a história de vida de cada entrevistado, sua origem, tradições familiares e sua relação direta com o desenvolvimento do município.

O documentário é o maior do gênero no Brasil e foi lançado em abril de 2018, com mais de 150 entrevistas de antigos nativos e moradores da cidade.

O historiador José Sandro da Silva diz que, no início do século passado, Arapiraca era apenas um pequeno sítio que englobava hoje a Praça Manoel André, Rua do Comércio e o perímetro central da cidade.

Produção de farinha de mandioca ajuda a produzir riqueza na cidade

Personagens históricos, como o emancipador Esperidião Rodrigues, Vicente Nunes de Albuquerque, Pedro Leão, Manoel Leão, José Bernardino, Crispiniano Ferreira de Brito e, no começo da fundação da cidade, o próprio Manoel André Correia dos Santos, entre outros, fizeram riquezas por meio da produção da farinha de mandioca.

Terras localizadas na região como a Serra dos Ferreiras e Canafístula foram os destaques da pujança econômica da monocultura de mandioca.

Ainda de acordo com o historiador, somente algum tempo depois do início do plantio de mandioca, foi inserido o cultivo de algodão nas terras de Arapiraca.

Nos anos do 1900, Sandro Ferreira relembra o plantio das primeiras sementes de fumo, no Sítio Cacimbas. As sementes chegaram da cidade de Lagarto, no interior de Sergipe, trazidas pelo agricultor Francisco de Paula Magalhães.

O preparo da mandioca exige um ritual que é seguido até os dias atuais pelo agricultor agrestino. Após o plantio, o camponês vai à roça retirar a mandioca da terra. Em seguida, a raiz passa por um processo de limpeza e retirada a casca para depois torrar a mandioca em fornos de barro e mexida até chegar ao ponto de consumo.

A origem do município de Arapiraca data do ano de 1848, quando o português Amaro da Silva Valente, morador no antigo Sítio Cacimbinhas, adquiriu uma propriedade e nele instalou a família de seu genro, Manoel André Correia, oriundo da cidade de Cacimbinhas e que se estabeleceu às margens de uma lagoa de águas limpas cercada de árvores denominadas “arapiracas”.

Nessa época, como distrito, Arapiraca esteve subordinada a Penedo, Porto Real do Colégio, São Brás e, por último, a Limoeiro de Anadia.

Após anos de lutas, encabeçadas pelo deputado Odilon Auto e pelo Major Esperidião Rodrigues da Silva, o distrito de Arapiraca foi elevado à categoria de município em 30 de outubro de 1924, em ato assinado pelo governador José Fernandes Lima, no dia 30 de maio daquele ano.